CRÍTICA | O ANJO MALVADO

Paulo Ricardo Cabreira Sobrinho
27 de set.
3 min de leitura

Nem todas as crianças parecem ser boazinhas ou queridas, elas também podem ser irritantes e até psicopatas em alguns casos. Estudos dizem que um serial killer já pode demonstrar sinais ainda na infância, não necessariamente por matar alguém, mas também por atitudes maldosas, como mentiras, manipulação, frieza, rebeldia. O cinema já retratou esse tema de “crianças malvadas” de diversas formas, seja em uma abordagem mais real, como A Tara Maldita, ou algo mais ficcional, como A Cidade dos Amaldiçoados e Colheita Maldita. E nessa lista de filmes com crianças malvadas, tem um “clássico” e querido pelo público, principalmente por ser estrelado pelo astro mirim em ascensão na época, Macaulay Culkin – aquele garotinho loirinho, querido e carismático de Esqueceram de Mim (Home Alone) -: O Anjo Malvado.

Durante anos, Culkin sempre ficou conhecido como o “garotinho de Esqueceram de Mim”, e sua imagem dificilmente era desvinculada desse personagem. Então, o diretor Joseph Ruben escalou o jovem ator em ascensão para estrelar O Anjo Malvado, onde ele interpretaria o garotinho desequilibrado e com atitudes cruéis Henry Evans. Na trama, Mark (Elijah Wood) perdeu a mãe recentemente e acaba indo passar uma temporada na casa da sua tia e de seu primo, Henry (Culkin). A dupla acaba se tornando grandes amigos, mas aos poucos, Henry começa a ter atitudes duvidosas, como mentir, fazer ameaças, e provocar acidentes. Então, Mark começa a suspeitar das atitudes de seu primo, e o pior é que ninguém acredita no que ele diz.

Junto com A Tara Maldita, clássico dos anos 50 sobre a primeira criança malvada do cinema, O Anjo Malvado é um dos únicos filmes que melhor apresentou a psicopatia em uma criança. Com sua duração de quase 1h30 minutos, “The God Son” é direto e sem enrolação, o suspense psicológico é muito bem construído, e a tensão vai aumentando à medida que Henry vai se revelando com suas atitudes maldosas e violentas. E não se engane com o rostinho angelical do personagem, Henry é manipulador, dissimulado, mentiroso, e agressivo, e fará de tudo para se safar das suas crueldades com os outros. Uma coisa que o roteiro de Ian McEwan falha é o fato de os pais de Henry não perceberem as suas atitudes, nem um pouquinho de dúvida eles têm. Mas o filme funciona, principalmente pela atuação incrível de Macaulay Culkin no papel do garotinho psicopata Henry. McEwan vai construindo a personalidade de Henry, revelando a sua psicopatia aos poucos, e Macaulay Culkin demonstra as maldades do seu personagem de forma convincente, seja pelos olhares e feições que mudam diversas vezes, e até pelas suas atitudes manipuladoras e agressivas que as vezes irritam o espectador. Elijah Wood, que estrelava um de seus primeiros filmes, também está ótimo no papel de Mark, que passa o inferno nas mãos de seu primo. Seu personagem é o único que percebe as maldades de Henry, que inicialmente fica com medo das brincadeiras e atitudes que acabam se tornando mortais, mas que depois consegue forças para confrontá-lo.

O Anjo Malvado não é somente lembrado por mostrar o eterno garotinho de Esqueceram de Mim interpretando um personagem perverso e manipulador – que aliás, a divulgação do filme aproveitou muito essa imagem de Culkin -, mas também pelo seu desfecho impactante e pesado, de certa forma, uma escolha dramática bem difícil para uma mãe, mas que faz sentido com a proposta do filme. Além disso, o filme retrata muito bem a psicopatia em uma criança, nos fazendo pensar como um garotinho pode ter atitudes cruéis e manipuladoras para conseguir o que quer sem sentir remorso algum. “The God Son” não tem muitas reviravoltas, o roteiro é bastante previsível, e também não é um primor de filme, mas o diretor Joseph Ruben é eficiente no desenvolvimento do suspense e da tensão, e na construção da personalidade Henry, que consegue realmente mostrar que as aparências enganam, que o “mal” tem vários rostos.