CRÍTICA | INVOCAÇÃO DO MAL 4: O ÚLTIMO RITUAL
- Paulo Ricardo Cabreira Sobrinho
- 5 de set.
- 6 min de leitura

Os filmes “Invocação do Mal” mudaram os rumos dos filmes de terror, principalmente os de espíritos e casas mal-assombradas, se tornaram um sucesso de público e crítica, e ainda resultou em um “invocaverso” com filmes “derivados”, ou spin-offs – Annabelle e A Freira -. A dinâmica era sempre a mesma – uma família era atormentada por espíritos demoníacos, e o casal Ed e Lorraine Warren ajudavam essas famílias -. Mas eles não só ajudavam como também tinham um carinho por elas, ficavam na mesma casa, jantavam, e as vezes passavam até mais tempo com as famílias do que com a própria filha deles, Judy. A cada caso assustador, ficava cada vez mais claro que Ed e Lorraine eram a alma da franquia.
O foco principal de cada um dos três filmes da franquia era a família atormentada por uma entidade demoníaca – os Perron no primeiro filme, os Hodgson de Invocação do Mal 2, e os Glatzel de A Ordem do Demônio -, mas sabíamos pouca coisa sobre o passado de Ed e Lorraine, no máximo a rotina do dia a dia e a conexão que eles tinham entre si (no terceiro filme, descobrimos como eles se conheceram). E então, temos Invocação do Mal 4 – O Último Ritual, produção que promete ser o último caso dos Warren, e sendo assim, Ed e Lorraine Warren acabam ganhando muito mais destaque do que a nova família atormentada pelas entidades demoníacas. Na trama, que se passa em 1986, os Smurl começam a ser assombrados após ganharem um sinistro espelho, que desencadeia situações estranhas quando uma das filhas começa a ver entidades pela casa. Após o caso ganhar repercussão nacional, Ed (Patrick Wilson) e Lorraine (Vera Farmiga), - que haviam parado de resolver seus casos de investigações paranormais -, descobrem que eles têm uma ligação com esse caso, e que envolve o passado do casal, principalmente em relação a sua filha, Judy (Mia Tomlinson).

Desde a cena de abertura, já fica evidente que Invocação do Mal 4 – O Último Ritual é mais sobre os Warren do que a família atormentada da vez, os Smurl. Michael Chaves retorna para a direção – gostando ou não, ele é o novo pupilo de James Wan -, seguindo a mesma dinâmica dos dois primeiros filmes (tem a casa onde acontecerá a maior parte das assombrações, a introdução da família que será atormentada, e os Warren indo ajudá-los), mas não tem o mesmo impacto de antes. Os clichês, que antes funcionavam e se justificavam, agora ficaram um pouco batidos, mas nada de tão horroroso – pelo menos, é melhor do que o terceiro filme -. Chaves até tenta seguir os passos de seu mentor, explorando elementos que deram certo na direção de Wan, mas acaba caindo na previsibilidade. O clima de suspense e terror é bem construído, tem os sustos fáceis (até demais), as assombrações, os espíritos, a ambientação sinistra (não tanto assim), o sótão/porão, tudo está lá e funciona – não tanto quanto Invocação do Mal 1 e 2, mas funciona -. O problema que muitos podem achar, é que o roteiro da mais ênfase na construção do “drama familiar” de Ed e Lorraine do que o caso de assombração da família Smurl, mas saiba que o roteiro consegue dosar bem a história dos Warren com o caso dos Smurl.
Invocação do Mal 4 é o capítulo final dos casos investigados por Ed e Lorraine Warren, e não seria justo se o foco da história não fossem eles. Desde a sequência inicial até o desenrolar da trama, com a apresentação do namorado de Judy, Tony (Ben Hardy), e a ligação dos Warren com a nova família, O Último Ritual é sim sobre eles. Por isso, a identificação do público é ainda maior, e mais sentimental também, provando que eles são um dos maiores casais da história do cinema – e não só do terror -; claro, grande parte disso se deve ao carisma e a sintonia que Vera Farmiga e Patrick Wilson sempre tiveram ao longo dos quatro filmes, fato que se repete aqui mais uma vez. Única ressalva é que faltou mais interação dos Warren com os Smurl, tudo acontece rápido demais – a conexão que eles tinham com a família Perron do primeiro Invocação do Mal, e com os Hodgson no segundo filme, era muito maior – mas essa interação funciona, só poderia ser mais trabalhada mesmo, o que deixaria tudo mais emocionante, afinal, é o último capítulo. Mia Tomlison é o destaque desse quarto filme, conferindo um carisma incrível para a filha de Ed e Lorraine, inclusive a sua sintonia com Ben Hardy, seu namorado, é incrível e convence; arrisco dizer que eles poderiam substituir Farmiga e Wilson em possíveis futuros filmes. Em relação a família Smurl, posso dizer que eles não tem o mesmo carisma que as outras famílias da franquia tinham, porém, são mais interessantes que os Glatzel de A Ordem do Demônio , culpa mais do roteiro que não os desenvolve bem, mas dentro das limitações, funciona bem.

Apesar desses problemas, Invocação do Mal 4 – O Último Ritual é um filme bom, e se torna um final digno e nostálgico para os Warren e para essa franquia que todos amam. Tem a ambientação assustadora, as assombrações, a casa mal-assombrada, a intensa sequência final (ótima por sinal), os sustos que todos adoram, mas não tem a mesma emoção do que os dois primeiros filmes tiveram. E o que mais pode deixar os fãs da franquia frustrados é por Michael Chaves focar mais nos Warren do que na maldição em si, mas no fim de tudo, o saldo é positivo. O Último Ritual é emocionante, (um pouco) assustador, tenso, tem sequências de assombrações dignas da franquia, e funciona, pode não ter o mesmo impacto de antes, mas funciona. Sentiremos falta de Ed e Lorraine Warren e seus infames casos baseados em fatos reais, mas resta saber qual o futuro do “invocaverso” e se os Warren retornarão para mais casos paranormais.

INVOCAÇÃO DO MAL 4: O ÚLTIMO RITUAL
Ano: 2025
Direção: Michael Chaves
Distribuidora: Warner Bros. Pictures
Duração: 135 min
Elenco: Vera Farmiga, Patrick Wilson, Mia Tomlison
NOTA: 8,0
CURIOSIDADE:
Foi produzido um filme sobre o caso da família Smurl, chamado A Casa das Almas Perdidas, de 1991, com Sally Kirkland e Jeffrey DeMunn no papel de Janet e Jack Smurl, respectivamente, e Diane Baker interpretando Lorraine Warren.

CASO REAL DA FAMÍLIA SMURL
Janet e Jack Smurl se mudaram com a sua família (os seus filhos e mais tarde, os pais de Jack) para uma casa em West Pittston, na Pensilvania, em 1976. Ao longo dos anos, a família afirmou ter presenciado atividades sobrenaturais casuais, culminando com um acidente envolvendo um lustre em 1985. Há relatos de que o cachorro dos Smurls foi arremessado contra a parede, e que uma das filhas foi empurrada da escada, além de gritos pela casa, portas abrindo e fechando, e cheiros ruins. E assim como o caso da família Hodgson, na Inglaterra, o caso dos Smurls foi parar na mídia e em programas de TV.
A chegada de Ed e Lorraine no caso dos Smurls aconteceu em 1986, e ao investigarem, descobriram que havia quatro espíritos – incluindo um demônio -: uma mulher idosa, um rapaz jovem violento, e um homem que morreu na casa, e que o tal demônio usava os três espíritos da casa para atormentar a família. No mesmo ano, os Smurl lançaram o livro The Haunted: One Family’s Nightmare. Durante as investigações, os Warren foram atacados diversas vezes pelas entidades. Porém, eles não conseguiram resolver o caso, mesmo após diversas tentativas de exorcismo, e tudo só “foi resolvido” quando um padre da região conseguiu expulsar o demônio. Porém, Janet continuava ouvindo batidas, vozes, e sombras pela casa. Em 1988, a família Smurl se mudou para uma outra cidade, e a casa foi colocada à venda, mas teve dificuldades para fechar negócio devido a repercussão do caso. Até que uma mulher chamada Debra acabou comprando a casa, e afirmou não ter presenciado nenhuma atividade paranormal no tempo em que viveu no local.



ONDE ESTÁ A FAMÍLIA SMURL HOJE?
O patriarca da família, Jack Smurl, teve uma vida tranquila até a sua morte, em junho de 2017, aos 75 anos. Ele trabalhou em uma empresa de doces na Pensilvania por trinta anos, além de permanecer em atividade na sua igreja local. A esposa dele, Janet Smurl, está viva e mora atualmente na Pensilvania. Já Carin Smurl, uma das filhas do casal, é investigadora paranormal. As outras filhas têm uma vida mais privada: Heather é mãe de dois filhos já adultos, e atualmente é professora, e Dawn teve um filho que jogou na equipe de futebol americano Seatle Seahawks. E apesar da vida mais reclusa, Shannon trabalha a área da saúde, além de também ser uma investigadora paranormal no tempo livre.

ENTREVISTA COM ED E LORRAINE SOBRE O CASO DA FAMÍLIA SMURL
VÍDEO 1 | CASO DA FAMÍLIA SMURL
VÍDEO 2 | CASO DA FAMÍLIA SMURL







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