CRÍTICA | CORRA QUE A POLÍCIA VEM AÍ! (2025)

Paulo Ricardo Cabreira Sobrinho
15 de ago.
4 min de leitura

Os filmes de comédias não são mais os mesmos desde o início da década de 2020, tanto é que o número de lançamentos nos cinemas de filmes desse gênero diminuíram consideravelmente, se limitando aos streamings. E nem é por causa da popularidade desses serviços, mas sim porque filmes como “Corra Que a Polícia Vem Aí!” são politicamente incorretos, com piadas e humor duvidosos que podem soar problemáticos. E fazer uma refilmagem da trilogia estrelada por Leslie Nielsen, lá dos anos 80 e 90, para os dias de hoje, seria um pouco arriscado, não é mesmo? Mas a Paramount, e o diretor Akiva Schaffer, não se importaram muito, e lançaram nos cinemas um remake dos clássicos de Nielsen – que funciona como uma continuação também -, mas agora estrelado por Liam Neeson, astro dos filmes de ação das últimas décadas. Na trama, Frank Derbin Jr. (Liam Nielsen) é um detetive do “Esquadrão de Polícia de Los Angeles” que começa a investigar o possível assassinato do irmão de Beth Davenport (Pamela Anderson). Com a ajuda da moça, Frank acaba descobrindo um plano insano de um bilionário da tecnologia que pode ameaçar a vida no planeta. Paul Walter Hauser, Kevin Durand, e Danny Huston completam o elenco.

O novo “Corra Que a Polícia Vem Aí!” traz de volta aquele humor escrachado que falta nos filmes de comédias da atualidade, aquele humor típico de filmes como “As Bem-Armadas” (com Sandra Bullock e Melissa McKarty) que não tem medo de chocar, de ser bobo, ou soarem inapropriadas. O roteiro é bem simples, segue a linha dos filmes originais estrelados por Leslie Nielsen – tanto na estrutura dos acontecimentos, quanto no humor mais besteirol -, engatando uma piada atrás da outra quase que interruptamente, onde nem todas conseguem ser tão engraçadas assim. E da mesma forma como são os primeiros filmes estrelados por Nielsen, o novo “ The Naked Gun!”, no original, é bem curtinho, com apenas 85 minutos de duração (menos de 1h20 se não contar os créditos finais), e é o tempo suficiente para a trama se desenvolver adequadamente, sem soar repetitivo ou cansativo. Esse humor mais escrachado realmente funciona, piadas que vão desde puns e fezes até comentários sexuais inapropriados, típicos dos filmes de comédia da década de 80 e 90, e mesmo com esse humor “nonsense”, o filme ainda tem piadas inteligentes e tiradas sensacionais, até a trilha sonora é zoada, com músicas que vão de Fergie para Enya em questão de minutos, sem nenhum contexto com as cenas.

Leslie Nielsen era a alma dos filmes originais, imortalizando o personagem Frank Derbin como um dos mais divertidos do cinema, e não seria nada fácil encontrar outro ator à altura para substituí-lo. A escolha, então, foi o astro do cinema de ação das últimas décadas, Liam Neeson. De indicado ao Oscar por A Lista de Schindler para um herói de ação, Neeson se reinventou no cinema, se tornando figurinha carimbada em filmes de ação como “Busca Implacável”, “Sem Escalas”, “O Passageiro”, e agora se aventura na comédia com o novo “Corra Que a Polícia Vem Aí!”. O timing cômico-escrachado de Neeson ficou perfeito para o papel de Frank Derbin Jr., que é o filho de Fank (interpretado por Nielsen nos filmes originais), conferindo um carisma incrível para o personagem, um policial politicamente incorreto ao extremo e que faz o público rir a todo instante – seja pelas piadas ou pelas situações que passa -. Pamela Anderson é Beth Davenport, que forma um par romântico com o personagem de Neeson, e eles têm muita química juntos, uma típica “Femme Fatale” dos filmes de espionagem, totalmente caricata e sedutora, que ainda acaba ajudando Frank na investigação. Ainda no elenco tem Danny Huston e Kevin Durand, que interpretam os vilões da trama, mas o roteiro não os desenvolvem bem, não são tão ameaçadores, e ainda são caricatos e bobalhões – provavelmente seja de propósito, considerando a proposta escrachada do filme -.

Corra Que a Polícia Vem Aí! não é um filme para se levar a sério, é bobo, despretensioso, e traz de volta aquele tom de humor besteirol e duvidoso que havia sido perdido ao longo dos anos. Com uma trama bem curtinha e fácil de compreender, e muito humor escrachado, o novo filme acerta em manter todos os elementos da trilogia original, e também acerta no carisma e na escolha dos protagonistas – Liam Neeson e Pamela Anderson -, além das piadas interruptas e situações hilárias, como a sequência de abertura (já mostrada no trailer), a cena da cozinha na casa de Frank, a do depoimento com a gravação da câmera corporal no personagem de Neeson, e até um momento fofo e emocionante com uma coruja se torna uma cena totalmente nonsense e inusitada. Filmes como esse novo “ The Naked Gun!” provam que o cinema ainda tem espaço para comédias pastelão e politicamente incorretas, a diversão e risadas são garantidas. Torcer para que o próximo “Todo Mundo em Pânico” siga pelo mesmo caminho. Corra Que a Polícia Vem Aí! tem uma cena pós créditos no final, e não tem nenhuma novidade sobre uma possível sequência. Mas acho que não seria uma má ideia.