CRÍTICA | A HORA DO ESPANTO (1985)
- Paulo Ricardo Cabreira Sobrinho
- 15 de jul.
- 7 min de leitura

Bem-vindos A Hora do Espanto... de Verdade!
Os filmes de vampiros sempre foram mais comuns em cenários góticos, como castelos medievais no interior de países europeus - ou nas ruas de Londres -, lugares escuros e assustadores, calabouços e porões – as várias produções de Drácula, mas principalmente o de Bram Stocker, e Nosferatu, são as maiores referências desse subgênero -. Teve algumas produções menos famosas (ou menos comerciais) que já trouxeram os vampiros para uma realidade mais atual, como Fome de Viver, de 1983, e A Hora do Vampiro, lançado para a TV em 1979, mas foi com A Hora do Espanto (1985) que os filmes de vampiros ganharam uma repaginada. “Fright Night”, no original, foi dirigido por Tom Holland (não o ator do Homem-Aranha), que escreveu roteiros para outros filmes e fazia a sua estreia na direção. A Hora do Espanto é o clássico filme de terror dos anos 80, com efeitos práticos muito bem-produzidos, humor típico do gênero na década de 80, e uma trama “mais adolescente”, além de também ser uma grande referência entre os filmes de vampiros, e que serviu de inspiração para várias produções ao longo dos anos – inclusive tem um remake mediano lançado em 2011 -.
Crucifixos, alhos, água benta, névoa, caixão, a transformação em um morcego, o (não) reflexo no espelho, estacas no peito para matar os vampiros, vulnerável a luz do dia, e a regra de que o vampiro só pode entrar na sua casa se for convidado, todos os elementos clássicos dos filmes de estão presentes, mas com uma roupagem moderna (para a época dos anos 80). A trama não poderia ser mais adolescente possível, típica dessa década: o jovem Charlie Brewster (William Rasgdale) adora filmes de terror, tem uma namorada chamada Amy (Amanda Bearse), mas nunca transaram, mora com a mãe em uma cidade suburbana, e foca apenas nos estudos. Uma noite, durante uns amassos com Amy e com a TV ligada no programa “A Hora do Espanto (Fright Night)”, Charlie vê dois homens carregando o que parece ser um caixão para o porão da casa ao lado. Posteriormente, ele descobre que esses dois homens são os seus novos vizinhos, Jerry Dandrige (Chris Sarandon) e Billy (Jonathan Stark), mas não somente vizinhos comuns, e sim vampiros. Após Jerry descobrir que Charlie sabe a sua real identidade, o jovem busca ajuda ao “matador de vampiros” – e apresentador – do programa “Fright Night”, Peter Vincent (Roddy McDowall).

“...os jovens de hoje não acreditam mais em vampiros. Só querem saber de assassinos com máscaras de hockey perseguindo garotas inocentes.”
Os filmes de terror dos anos 80 foram marcados por produções no “estilo B”, filmes de baixo orçamento com efeitos práticos e maquiagens duvidosas e nojentas – por incrível que pareça, até bem melhor do que muitos efeitos em CGI -, além de ser um gênero muito popular entre os jovens. E uma característica típica desses filmes era o humor, que as vezes amenizava as cenas de horror de uma forma geral. O diretor Tom Holland, que fez a sua estreia nos cinemas com esse A Hora do Espanto, sabia disso, e resolveu atualizar os filmes de vampiros: saem castelos medievais, cidades antigas, vilas europeias, cenários góticos, e entram as cidades suburbanas sujas, com seus defeitos e qualidades. Essa modernização acontece em vários momentos do filme, como a perseguição no beco típico de uma cidade grande dos anos 80, a discoteca e músicas da época, o próprio programa de TV “Fright Night”, em um tipo de metalinguagem, e os constantes romances adolescentes. A sensualidade sempre foi abordada em filmes de vampiros, mas em A Hora do Espanto ganha uma roupagem mais adolescente dos anos 80 (algo como os filmes da franquia Sexta-Feira 13, mas sem as cenas de sexo), elementos muito comuns em filmes de terror dessa época.
A Hora do Espanto é um dos mais aclamados filmes de terror da década de 80, e não é por menos. O roteiro, também escrito por Tom Holland, é cativante e bem estruturado, mantém toda a mitologia dos vampiros, cria momentos e situações memoráveis, e é repleto de detalhes que enriquecem ainda mais a história. Há também alguns toques de voyeurismo – no melhor estilo de Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcook -, nudez típicas de filmes de vampiros, muito suspense, mistério, e cenas violentas com bastante gore e sangue, bem no estilo terror/trash dos anos 80. Os personagens também se destacam bastante, carismáticos, divertidos, com atuações um pouco caricatas, mas que ficaram marcados na cultura pop, como o “matador de vampiros” Peter Vincent, e Jerry Dandrige (um vampiro chamado Jerry?), o antagonista do filme. Mas, provavelmente, o destaque definitivo de A Hora do Espanto são os efeitos práticos e a intensa maquiagem. O trabalho de Richard Edlund´s é incrível, desde a maquiagem assustadora dos vampiros – os enormes dentes sujos e pontudos, os olhos que mudam de cor, as mãos e unhas -, até os efeitos práticos e edição da própria câmera na hora das filmagens, tudo impecável e muito bem-feito. Uma cena específica é de um primor técnico que impressiona até hoje: a transformação de um dos personagens – que havia se transformado em um lobo após ter se tornado um vampiro – em humano, que aliás, foi inspirada em uma cena similar a outra cena de transformação (mas ao contrário) do filme Um Lobisomem Americano de Londres, de 1982.

O protagonista de A Hora do Espanto é o adolescente Charlie Brewster, interpretado brilhantemente por William Rasgdale, que cria um personagem bem diferente do que a maioria estava esperando. Charlie é um típico adolescente dos anos 80, tem uma namorada, adora filmes de terror, e é tão curioso e impulsivo que acaba descobrindo que seu vizinho é um vampiro centenário. Parece ser bobinho e inocente, mas se mostra determinado a enfrentar a situação. Todo esse problema que o personagem se meteu, acabou ficando no imaginário dos jovens na época, que se imaginavam viver essas aventuras no seu lugar – não necessariamente o de ter um vizinho vampiro -, mas principalmente pela questão do voyeurismo e por ter um vizinho, ou vizinha, bonito(a) e sedutor(a). Já a sua namorada, Amy (Amanda Bearse), é garota perfeita e amorosa que faz de tudo para ajudar Charlie, mas acaba virando o principal alvo de Jerry ao ver que ela é muito parecida com um antigo amor do vampiro – aliás, outro elemento clássico dos filmes de vampiros -. Para o personagem Peter Vincent, o “matador de vampiros”, o diretor/roteirista Tom Holland queria o veterano Vincent Price, que era famoso por estrelar filmes de terror – a maioria de monstros -, mas por questões de saúde, Roddy McDowall (de Planeta dos Macacos, 1968) acabou ficando com o papel. Vicent é o apresentador do programa noturno “Fright Night”, interpretando um famoso “matador de vampiros” (pelo menos era o que todos achavam), e tem uma interessante transformação de um personagem covarde para um herói dos filmes de terror. E apesar de terem poucos momentos juntos em tela, Peter Vincent e Charlie entregam alguns dos momentos mais divertidos do longa.

Chris Sarandon ficou com o papel do antagonista, o vampiro Jerry Dandrige, em uma atuação marcante com muitos trejeitos, mas sem parecer caricato, e que o tornou um dos personagens mais icônicos do terror, além de ser considerado um dos maiores vampiros da história do cinema. Sarandon cria um personagem sedutor, simpático, e ameaçador, mantendo todas as características dos vampiros dos filmes clássicos, mas com toques mais modernos, e as vezes sem parecer assustador. Jerry tem um “mordomo”, Billy (Jonathan Stark), um personagem misterioso e um pouco caricato que faz tudo para protegê-lo durante o dia, e aqui há uma leve conotação homossexual – de forma intencional - entre os personagens. A bissexualidade sempre esteve presente na maioria dos filmes de vampiros, e em A Hora do Espanto, há indícios na relação entre Jerry e Billy. Será que eles eram amantes? Um dos coadjuvantes que mais se destaca é Evil Ed, interpretado por Stephen Geoffreys, o melhor amigo de Charlie. Evil Ed é um personagem bastante curioso: apesar de não aparecer tão explicito assim, dava a entender que ele sofria bullying, principalmente em uma cena em que Jerry o persegue pelo beco, e ao encurralá-lo, o vampiro diz para ele: “...não precisa ter medo de mim, eu sei como é ser diferente. Eles não vão mais implicar ou bater em você. Eu irei garantir isso”. É uma cena um pouco emotiva que acaba tendo um impacto maior na sequência de sua transformação. Evil Ed é um dos personagens mais divertidos da época, histérico, doido, e com um carisma incrível, além de ter uma das risadas mais marcantes dos anos 80. Tempos após o lançamento do filme, surgiu um debate de que Evil Ed seria um personagem gay – principalmente por sofrer bullying -. Holland disse que essa não era a intenção ao criar o personagem, mas que ele poderia ser interpretado dessa forma.

Apesar de algumas cenas e detalhes da época que ficaram um pouco datadas, A Hora do Espanto envelheceu muito bem, e não é por nada que o filme se tornou um dos maiores clássicos dos anos 80, e referência a vários filmes de vampiros que surgiram nos anos seguintes. É um filme simples e divertido, dosa bem os momentos de terror e comédia, mas consegue ser assustador da mesma forma, com efeitos práticos incríveis e que impressionam até hoje – a maquiagem dos vampiros é assustadora, e a transformação de um dos personagens é espetacular, um primor técnico irretocável -. Os personagens são cativantes, os detalhes técnicos são primorosos (a neblina, os cenários impecáveis, até a trilha sonora instrumental de “Come To You”, que ficou tão perfeita e hipnotizante na trama que acabou se tornando a música tema do filme), e a trama repleta de informações interessantes, Tom Holland conseguiu criar um clássico do gênero ao manter todos os elementos típicos de filmes de vampiros, mas com a realidade dos anos 80, um filme bem estruturado e com muitos detalhes que só acrescentam no resultado final. Com certeza, um filme que deve ser revisitado por todos. A Hora do Espanto rendeu uma continuação, lançada em 1988, trazendo o retorno de William Rasgdale e Roddy McDowall em seus respectivos papéis, e uma refilmagem horrorosa em 2011, com Colin Farrell interpretando Jerry, Anton Yelchin no papel de Charlie, e David Tennant no papel de Peter Vincent.

A HORA DO ESPANTO
Ano: 1985
Direção: Tom Holland
Distribuidora: Columbia Pictures/Sony
Duração: 102 min
Elenco: William Rasgdale, Roddy McDowall, Chris Sarandon, Amanda Bearse, Stephen Geoffreys
NOTA: 9,5
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