CRÍTICA | A GRANDE VIAGEM DA SUA VIDA

Paulo Ricardo Cabreira Sobrinho
7 de out.
3 min de leitura

Todo ano são lançados filmes de drama, romance, ou comedia romântica, e a maioria acaba caindo na mesmice e nos clichês típicos do gênero. Mas eis que surge A Grande Viagem da Sua Vida, estrelado por Colin Farrell e Magort Robbie, que apresenta uma abordagem mais surrealista, contando a história de dois estranhos que atravessam "portas mágicas” para resolver problemas do passado de cada um, e quem sabe ficarem juntos no final. Dirigido pelo cineasta e roteirista sul-coreano Kogonada (de Columbus e After Yang), “A Big Bold Beautiful Journey” é uma jornada de autodescobrimento, de novos amores, e sobre problemas do passado que não foram resolvidos. Na trama, David (Farrell) e Sarah (Robbie) vão no casamento de um amigo em comum, e quando se conhecem, acabam criando uma forte conexão (pelo menos é o que eles acham). Cada um segue o seu caminho para suas casas – eles moram na mesma cidade -, porém, o destino, ou a “companhia de aluguel de carros”, os colocam juntos em uma viagem pelo passado de ambos para que eles se conheçam ainda mais. Kevin Kline e Phoebe Waller-Bridge também estão no elenco.

Essa abordagem mais surrealista no cinema não é nenhuma novidade, filmes como Cidade dos Sonhos, Um Olhar do Paraíso, Cisne Negro, Mais Estranho Que a Ficção, e Mãe! já usaram esse estilo para contar histórias fantásticas. Agora, em A Grande Viagem da Sua Vida, o diretor sul-coreano explora esse conceito não só abordando situações não resolvidas no passado, mas principalmente sobre conexões humanas, e o medo de entrar em um relacionamento sério com alguém. O romance fantasioso e água com açúcar entre os personagens de Colin Farrell e Margot Robbie, intercala com os momentos dramáticos do passado deles, onde ambos vão conhecendo as dores e os problemas de cada um, criando assim um vínculo, e motivo para os personagens ficarem juntos. Tem a relação de Sarah (Robbie) com sua mãe falecida e seus ex-namorados, e a relação inexistente entre David (Farrell) e o seu pai, além de um crush que tinha na adolescência. O visual e a direção de arte são os grandes destaques do filme, com cores vivas nos cenários e paisagens surreais que remetem aos sonhos, uma pena que são poucos momentos assim – uma em específico, muito bonita por sinal, é quando David e Sarah estão conversando em um morro com a vista da Terra, como se estivessem no espaço, um dos momentos mais surreais e belos da produção -.

Margot Robbie e Colin Farrell dão carisma aos seus personagens, o drama deles é bem trabalhado no roteiro, convence, e muitos podem se identificar com as situações, porém, a química entre o casal não é tão boa assim. Os conflitos dos personagens funcionam separadamente, mas quando o roteiro os forçam a ficarem juntos, simplesmente não parece ter nenhuma conexão, não faz sentido; o romance do casal é bonitinho, mas não convence como o esperado. Colin Farrell cria um personagem adorável, sensível, leve, e com um ótimo senso de humor – mesmo com os conflitos do passado -, e Margot Robbie cria uma personagem mais tensa e sempre na defensiva, principalmente pela sua conturbada relação com sua mãe, e também por não dar certo nos relacionamentos. E por causa desses problemas todos, ambos tem dificuldades, e receios, de entrar em um relacionamento. Kevin Kline e Phoebe Waller-Bridge trabalham na companhia de aluguel de carros, e seus personagens são algo parecido como cupidos (ou talvez uma agência de relacionamentos?), com atitudes estranhas, criando "coincidências" para que David e Sarah fiquem juntos. Será que conseguem?

A Grande Viagem da Sua Vida fica muito na “zona de conforto”, não ousa, poderia usar mais o surrealismo e criar cenários inusitados, o ritmo é mais lento, e não tem grandes reviravoltas no roteiro; tudo é simples e sem muita enrolação, mas é um bom filme para passar o tempo e quem sabe se emocionar um pouco. Em um ano em que os filmes de terror dominaram o cinema, além de blockbusters com super-heróis e o filme dos dinossauros, o cineasta sul-coreano Kogonada chega como uma opção diferente, um drama misturado com romance sobre superar e resolver traumas do passado para poder seguir adiante, e entrar em um relacionamento, isso se você tiver a oportunidade de atravessar uma porta mágica e voltar para o passado. Não é um dos melhores filmes do gênero, tem seus probleminhas básicos, mas é um filme leve, sensível, tem seu peso dramático; não é tão emocionante como parecia ser.