CRÍTICA | A GAROTA NO TREM

Paulo Ricardo Cabreira Sobrinho
27 de out. de 2016
3 min de leitura

Atualizado: 14 de mai.

A Garota do Trem é baseado no livro homônimo da escritora Paula Hawkins, que se tornou mais um fenômeno literário com mais de 15 milhões de cópias vendidas, ficando em primeiro lugar nas paradas por 16 semanas não consecutivas. Assim como Garota Exemplar, que também fez sucesso na literatura, a obra virou filme, e impulsionado pela repercussão do mesmo, uma adaptação cinematográfica era esperado. O diretor Tate Taylor ficou encarregado de dar a sua versão para o livro, e nos apresenta um filme menos ousadao que Garota Exemplar, mas ainda interessante e com ótimas reviravoltas. Na trama, Rachel (Emily Blunt) é uma mulher divorciada e alcoólatra que, para esquecer os problemas de sua vida, imagina sobre a vida de um casal, Megan (Haley Bennett) e Scott (Luke Evans) que vê todos os dias ao passar de trem. Sua vida muda quando Megan desaparece, e decide ajudar na investigação, mas acaba se envolvendo demais. Rebecca Ferguson, Justin Theroux, Édgar Ramírez e Alisson Janney também estão no elenco.

O filme de Tate Taylor mantém a estrutura e os principais momentos do livro, incluindo a introdução dos três capítulos iniciais contados pelo ponto de vista das três personagens, fato que irá agradar os fãs. Com muito suspense e mistério, A Garota do Trem já chama a atenção pela narrativa, criando uma atmosfera tensa à medida que se desenvolve, mostrando um forte arco dramático dos personagens, e seus vícios. Outro ponto a ressaltar é a ambientação, aliada a trilha sonora, que ajuda a criar os elementos necessários para deixar o longa interessante. Talvez, o grande erro seja em alguns pontos da direção: no livro, o leitor segue o passo a passo da investigação do crime, fato pouco presente no filme, ainda que tenha momentos de flashbacks, esses que podem deixar o espectador meio perdido, já que são de três personagens. O diretor também não soube aproveitar bem o ambiente, onde poderia explorar mais o voyeurismo, sendo que a personagem viaja de trem todo dia e fica observando os moradores, e utilizar mais cenas na floresta, que dariam um charme ainda maior no filme.

Mas, o principal ponto positivo são as três personagens da trama, Rachel (Emily Blunt), Megan (Haley Bennett) e Anna (Rebecca Ferguson), que fazem um excelente trabalho de atuação. Emily é a que mais se destaca, desempenhando um papel forte e bem dramático de sua personagem, alcoólatra e depressiva, sem saber qual rumo tomar, e vendo nessa investigação uma solução para se sentir viva. Mas esse envolvimento no caso, pode fazê-la ser a principal suspeita, ainda mais devido ao seu problema com bebidas. Haley é Megan, a mulher desaparecida, que mostra toda a fragilidade da personagem, e encara muito bem o papel da esposa modelo, até um certo ponto. E completando o trio, Rebecca Ferguson interpreta Anna, esposa do ex-marido de Rachel, e sua personagem tem uma ótima reviravolta no final. No núcleo masculino, temos Luke Evans, que interpreta Scott, namorado de Megan, suspeito do desaparecimento de sua esposa, Tom, interpretado pelo ator Justin Theroux, ex-marido de Rachel, que viveu momentos tensos com os problemas do alcoolismo dela, e o dr. Kamal Abdic, interpretado pelo venezuelano Edgar Ramirez, o psicólogo que Megan tem suas consultas, e as maiores confissões.

A Garota no Trem ainda aborda um assunto muito importante e negligenciado ultimamente, o abuso emocional e psicológico que as mulheres sofrem de seus maridos, retratado de uma forma bem realística, além de suas frustações pessoais e emocionais. No fim, o filme de Tate Taylor não chega a ser tão grandioso quanto Garota Exemplar, mas é um ótimo suspense, com um ótimo desenvolvimento das personagens femininas, e muitas reviravoltas, que prendem a atenção do público para descobrir quem é o culpado pelo desaparecimento de Megan. E sobre o final? Bom, assim como o de Garota Exemplar, esse não é coerente também, mas ambos são bastante curiosos e bons para discutir sobre.