CRÍTICA | TARA MALDITA (1956)
- Paulo Ricardo Cabreira Sobrinho
- 22 de set.
- 4 min de leitura

Sem se aprofundar muito no assunto, a psicologia explica que a maioria dos serial killers já começam a apresentar sinais psicopáticos ainda na infância, não necessariamente matando pessoas, ou animais, mas atitudes frias e incomuns para uma criança. E em uma determinada cena de “Tara Maldita”, os personagens até questionam se a psicopatia pode ser hereditária. O cinema sempre abordou filmes de suspense e terror com crianças malvadas de diversas formas – O Anjo Malvado, A Cidade dos Amaldiçoados, A Órfã, Colheita Maldita -, mas poucos sabem sobre “Tara Maldita”, tradução controversa de “The Bad Seed”, ou “A Semente do Mal”, o primeiro filme sobre crianças malvadas do cinema, lançado lá em 1956, produção que chocou o público na época, mas que se tornou um sucesso de bilheteria, além de ter sido indicado a 04 Oscars – Melhor Atriz (Nancy Kelly), Atriz Coadjuvante (Patty McCormack e também para Eileen Heckart), e Melhor Fotografia em Preto e Branco. A trama acompanha a garotinha Rhoda, que parece ser dócil e querida, mas acaba se revelando uma psicopata mentirosa que mata simplesmente por inveja e por não conseguir o que quer. Henry Jones e Evelyn Varden também estão no elenco.
Vale lembrar que Tara Maldita é um filme dos anos 50, então, toda a dinâmica, estrutura, e acontecimentos, são bem estranhos e diferentes do que os filmes de hoje. Dirigido por Mervyn LeRoy, “The Bad Seed” segue a estrutura de uma peça de teatro – um cenário fixo na maioria das cenas, atuações dramáticas típicas de uma peça -, e os diálogos são longos, bem explicativos, mas muitas vezes desnecessários demais. Rhoda é uma assassina em potencial, e durante o filme ela comete alguns crimes, porém, LeRoy nunca mostra o ato em si, e um exemplo é em uma cena onde um dos personagens morre queimado, mas não aparece ele pegando fogo, somente a fumaça e a reação dos personagens. O roteiro ainda cria um debate interessante sobre crianças com traços psicopatas, ainda que não seja tão aprofundado – e nem precisava porque não é um filme criminal -: será que elas já demonstram esses sinais desde a infância ou são adquiridos ao longo da vida?

Rhoda (Patty McCormark) mata por motivos fúteis – como objetos e joias -, além de ser mentirosa, vingativa e manipuladora, principalmente se não consegue o que quer. A atriz, que na época tinha oito anos, e convence totalmente como uma criança sociopata, seja pelas suas atitudes, suas feições que se mudam rapidamente, e não se engane com o rostinho angelical e suas roupas de boneca: se contrariada, Rhoda Penmark não perdoa. Além de manipular a sua mãe, Cristine (Nancy Kelly), a jovem tem embates calorosos com Leroy (Henry Jones), um personagem que claramente tem problemas psicológicos, e que fica implicando com Rhoda, provocando-a para faze-la confessar os seus crimes. Será que consegue? Nancy Kelly também está ótima no papel da mãe que “fecha os olhos” para as atitudes de sua filha – mas também, quem iria acreditar que sua filha poderia ser uma assassina em série? -; aliás, sua personagem tem uma revelação bem interessante. No elenco coadjuvante, Eileen Heckart também se destaca como a mãe de uma das vítimas de Rhoda, com sua atuação dramática e teatral digna de prêmios.
O DESFECHO POLÊMICO

Tara Maldita já é um filme polêmico por mostrar uma menina de oito anos com traços de um psicopata, ainda mais para os anos 50, e o final não poderia ser diferente. Sem muitos spoilers, The Bad Seed não tem um final feliz, é impactante e impressionou o público na época do lançamento. Além disso, tem uma reviravolta inesperada no final, e termina de uma forma bem brusca, selando de vez o trágico destino de Rhoda. Em exibições testes para o público, muitos acharam o final bastante impiedoso, frio, e cruel, ainda mais para uma garotinha de oito anos e, novamente, por ter sido lançado nos na os 50, época de costumes e ideais diferentes. Para resolver isso, o diretor Mervyn LeRoy colocou uma apresentação mais animada de todo o elenco, além da famosa cena do “tapinha” na bunda de Rhoda, - de uma forma bem animada, claro - como uma punição pelas suas maldades durante o filme. Vale mencionar que o desfecho é bem estranho, termina de forma bem rápida e sem muitas explicações.
Curiosamente, a produção é baseada em uma peça de teatro – e que por sua vez, é baseada na obra literária de William March -, inclusive trazendo parte do elenco principal da peça para estrelar o filme, que é o caso de Nancy Kelly. Apesar da sua longa duração - mais de 2 horas -, Tara Maldita é um filme bastante curioso de assistir, seja pela sua abordagem mais teatral e dramática, principalmente por ser dos nos 50, ou pela trama inusitada de uma garotinha que se revela uma assassina em série, algo incomum para a época, ainda mais por ser o primeiro filme com crianças malvadas. Tem reviravoltas, segredos revelados, a atuação de Patty McComark é incrível e convincente. Rhoda Penmark não está para brincadeiras, e se você não fizer o que ela quer, Rhoda vai se vingar.

A TARA MALDITA
Ano: 1956
Direção: Mervyn LeRoy
Distribuidora: Warner Bros. Pictures
Duração: 129 min
Elenco: Nancy Kelly, Patty McCormark, Henry Jones e Evelyn Varden
NOTA: 8,0
(Infelizmente, o filme não está disponível em nenhum serviço de streaming).















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