CRÍTICA | O RITUAL (2025)
- Paulo Ricardo Cabreira Sobrinho
- 4 de ago.
- 4 min de leitura

Hoje em dia, a igreja católica quase não realiza mais exorcismos, principalmente pelo avanço da medicina/psiquiatria, alegando que a vítima pode ter esquizofrenia ao invés de estar possuída por entidades malignas. Já nos cinemas, esse subgênero do terror sempre esteve em alta, e praticamente todo ano surge alguma produção sobre exorcismo. O problema é que, às vezes, parece que esse subgênero está se esgotando, talvez pela falta de novidades, de uma trama mais original – manter os elementos básicos de filmes de exorcismos (os clichês) não é errado, mas tem que ter algum elemento na história que faria se destacar entre os diversos exemplares do gênero -. A produção mais recente é O Ritual, estrelado por Al Pacino, e que acompanha o padre Joseph Steiger (Dan Stevens), dono de uma paróquia local escolhida para realizar o exorcismo da jovem Emma (Abigail Cowen). Todos os tratamentos psiquiátricos já foram tentados, e a família chegou à conclusão de que a jovem está possuída, e para ajudá-la, um padre especializado no assunto, Theophilus (Al Pacino), é convocado para liderar os rituais de exorcismo, com a ajuda do padre Steiger. Para fins de curiosidade, O Ritual é baseado em uma história real – a maioria é – sobre uma jovem chamada Anna Ecklund que estava possuída por um demônio e que passou por vários rituais entre agosto de dezembro de 1928. O caso de possessão de Anna é reconhecido mundialmente como um dos mais bem documentados pela igreja católica, aparecendo até na revista americana Time, em 1936; inclusive, esse caso serviu de inspiração para o roteiro do clássico O Exorcista, de 1973.
Dirigido por David Midell, O Ritual não é um filme que reinventa o gênero, não tem muitas novidades, não é nada original, e tem tudo que já vimos em outros filmes sobre exorcismos. A trama fica muito na zona de conforto, se desenvolvendo nos vários rituais para tentar expulsar o demônio da garota, e durante os intervalos entre um ritual e outro, os personagens fazem reflexões sobre tudo o que aconteceu, inclusive se questionando sobre a fé de cada um. O bom é que o filme não foca em sustos fáceis, tem um ou dois – que até é aceitável -, mas o roteiro prefere focar mais no suspense psicológico. As sequências de exorcismo são interessantes e tem seu impacto, mas nada de tão diferente do que já vimos, e o ponto forte de O Ritual é a ambientação da paróquia, que cria um ar de mistério com algumas aparições surpresas. Um detalhe que dá uma certa diferença entre os filmes do gênero é a movimentação da câmera – ou “tremedeira” – durante os rituais de exorcismos, conferindo a sensação de um filme mais documental, e a câmera focando rosto dos personagens mostrando o desespero é outro diferencial que torna a experiência mais interessante e imersiva. Talvez, se o filme focasse mais nessa ideia de algo mais documental, o resultado poderia ter sido melhor.

O roteiro de O Ritual investe bastante na discordância entre os padres Steiger (Dan Stevens) e Theophilus (Al Pacino). Steiger nunca presenciou um exorcismo, e ele acaba ficando um pouco cético em relação a isso, acreditando que o problema da jovem Emma é um caso psiquiátrico. Já o padre Theophilus é especialista em exorcismos, e ele claramente sabe que é um caso de possessão, inclusive já estava acompanhando a um tempo, e esse contraste de opiniões, da fé e descrença entre os padres é o que move a trama. O drama de Steiger é bem mais desenvolvido, ele está de luto pela morte do irmão, e muitas vezes chega a se questionar sobre a sua fé, e isso pode atrapalhar os rituais de exorcismos. O padre Theophilus é um especialista em exorcismo, mas se sente frustrado após falhar nas tentativas anteriores de ajudar a jovem Emma. Porém, ele continua determinado em realizar as sessões, mesmo apresentando ares de cansaço, sentindo que já está na hora de se aposentar. Al Pacino não tem uma atuação memorável, mas funciona dentro da proposta do seu personagem. E ainda sobra até para as freiras, que passam por situações bem tensas.
No fim, O Ritual é um filme básico, segue por um caminho mais confortável, sem novidades ou surpresas, com subtramas que não se desenvolvem – o suposto caso entre o padre Steiger e uma freira, a comunidade está sendo afetada pelo ritual de exorcismo -, e os clichês típicos de filmes de exorcismo - crucifixos, xingamentos, comentários sexuais, vômitos, sangue, partes do corpo distorcendo -, mas entrega bons momentos de possessão, e os rituais têm seu poder. Não é um filme ruim, a ambientação funciona, as atuações são boas, tem Al Pacino em um filme de terror, mas poderia ter sido melhor, ter arriscado mais, principalmente por ser um caso de possessão famoso. O Ritual é um filme interessante, e com certeza não irá marcar o gênero, mas funciona dentro da sua proposta mais simples e realista.

O RITUAL
Ano: 2025
Distribuidora: Paris Filmes
Direção: David Midell
Duração: 98 min
Elenco: Al Pacino, Dan Stevens, Ashley Greene, e Abigail Cowen
NOTA: 7,5




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