CRÍTICA | HEREGE
- Paulo Ricardo Cabreira Sobrinho
- 3 de dez. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 26 de abr.

A produtora americana A24 acabou se tornando referência para os fãs de filmes de terror graças as suas produções impecáveis que saem do comum, em relação as outras produções do gênero, incomodando o espectador e fazendo-os pensar – nada é entregue de bandeja -. A nova produção do estúdio é o thriller psicológico Herege, estrelado por Hugh Grant, um “terror religioso” por assim dizer, inteligente e muito bem construído, mas que acaba perdendo forças no ato final, apesar de ser bem interessante. Na trama, duas jovens missionárias – a irmã Barnes (Sophie Tatcher) e a irmã Paxton (Chloe East) – vão até a casa do sr. Reed (Grant) para tentar convertê-lo. Mas o que era para ser uma simples visita acaba se tornando algo extremamente perigoso, onde as jovens precisam lutar pelas suas vidas.
2024 Foi um ano muito bom para o terror, com ótimos lançamentos que surpreenderam o público e a crítica, e Herege encerra essa temporada com chave de ouro. Dirigido pela dupla Scott Beck, Bryan Woods (de 65 – Ameaça Pré-Histórica), o roteiro – também escrito pela dupla -, é muito bem desenvolvido, fazendo questionamentos sobre fé, escolhas e livre-arbítrio, criando um debate tenso sobre religião; praticamente uma aula sobre o tema, mas sempre flertando com o suspense e horror. Toda a primeira metade de Herege é bem promissora, o suspense e o mistério são constantes, tem uma ambientação claustrofóbica, a tensão entre o personagem de Hugh Grant e as missionárias é genuína, e as referências a Lana Del Rey, Radiohead, Monopoly, e outras religiões, só enriquecem ainda mais os diálogos inteligentes da trama. O problema é que a segunda metade cai um pouco nas típicas produções de terror, como se fosse um resolução fácil optada pelos diretores (o jogo de gato e rato), mas ainda é intrigante e traz questionamentos interessantes, além de algumas reviravoltas.

O ponto central de Herege são os seus personagens principais, sr. Reed e as missionárias Barnes e Paxton. A tensão entre eles é constante, apoiado nos diálogos densos e afiados sobre crença e descrença, fé e ceticismo, que prendem a nossa atenção desde os primeiros minutos da conversa. Hugh Grant sempre foi figurinha carimbada em comédias românticas, mas agora decidiu se aventurar no terror, e acabou se saindo muito bem, criando um antagonista misterioso, assustador, ambíguo, e inteligente, que marca presença em todas as cenas. O ponto alto é a sua “palestra” sobre teologia, fato que poderia deixar a produção entediante, mas o jeito manipulador e provocativo do personagem, aliado com a ótima atuação de Grant, prendem ainda mais a atenção do público. O mérito também vai para as duas missionárias, irmã Barnes (Sophie Tatcher) e a irmã Paxton (Chloe East): com o jeito passivo e cooperativo das personagens, as atrizes convencem apenas com suas expressões faciais e gestos, passando a sensação de perigo e os momentos de tensão perfeitamente, nos fazendo torcer para ambas conseguirem fugir da casa do sr. Reed.
O final de Herege fica em aberto, mas não para uma continuação (geralmente, a A24 não faze sequências), e sim para uma reflexão, e cabe ao espectador tentar decifrar o que aconteceu com as personagens. No geral, Herege é um dos thrillers psicológicos mais interessantes do ano, com uma trama bem construída e imprevisível onde não sabemos o que vai acontecer, muito suspense e tensão – principalmente nos diálogos afiados sobre religião entre os personagens -, um vilão bem desenvolvido, e ainda nos proporciona um debate sobre religião, crenças, descrenças, e escolhas, questionando a nossa fé e até onde acreditamos nela. As atuações do elenco, os cenários angustiantes da casa do sr. Reed, e a tensão constante, intensificam ainda mais a produção, terminando de forma satisfatória, mesmo com alguns tropeços. Muitos poderão ficar frustrados com o desfecho, mas é um final intrigante, e ainda nos deixa com uma pergunta na cabeça: será que testemunhamos um milagre?

HEREGE (HERETIC)
Ano: 2024
Direção: Scott Beck, Bryan Woods
Distribuidora: Diamond Filmes/ A24
Duração: 110 min
Elenco: Hugh Grant, Sophie Tatcher, Chloe East
NOTA: 9,0
Disponível no






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