ESPECIAL | JURASSIC PARK 3
- Paulo Ricardo Cabreira Sobrinho
- 25 de jun.
- 8 min de leitura
Atualizado: 3 de jul.

Somente até o final da década de 90, Steven Spielberg já tinha, pelo menos, dois filmes na lista das maiores bilheterias da história do cinema: Jurassic Park (1993), e O Mundo Perdido: Jurassic Park (1997), arrecadando US$ 978 milhões e US$ 618 milhões, respectivamente, faturando um total de mais de US$ 1.6 bilhões de dólares – junto com os relançamentos nos cinemas -. Vendo o sucesso que tinha em mãos, a Universal Pictures não perdeu tempo, e ainda em 1998 anunciou a produção de um terceiro filme, o controverso Jurassic Park 3, lançado em 2001. O estúdio queria que Spielberg dirigisse novamente, mas ele tinha planos para produzir outros filmes – no mesmo ano, lançou “A.I.: Inteligência Artificial” -. Além disso, o diretor alegou que fazer um terceiro filme seria muito “cansativo”, recusando a proposta. Então, a direção de Jurassic Park 3 acabou ficando para Joe Johnston, e Spielberg ficou apenas na função de produtor.
Ainda em 1993, após o lançamento do primeiro filme, um grande amigo de Steven Spielberg, Joe Johnston, estava interessado em dirigir uma sequência. Porém, Spielberg já estava cotado para a direção do segundo filme, e então disse para Johnston dirigir um possível terceiro filme. Inicialmente, Jurassic Park 3 teve vários roteiros, e um deles mostrava Alan Grant “vivendo” ilegalmente em uma das ilhas dos dinossauros e estudando os animais – ideia do próprio Spielberg -. Os outros rascunhos eram parecidos com o roteiro final do filme: um deles acompanhava um grupo de estudantes/ adolescentes abandonados na ilha Sorna, e também uma história paralela que se passava no continente, mostrando uma investigação de ataques de dinossauros. Um outro mostrava Alan Grant sendo convencido por um casal em lua de mel a fazer um passeio de parapente pela ilha – a ideia mais próxima do roteiro final -, e ainda tinha uma ideia de o governo dos EUA bombardear a ilha, matando todos os dinossauros.
Inicialmente previsto para estrear em 2000, Jurassic Park 3 acabou sendo lançado somente em 2001, e foi o único filme da trilogia original a não se basear em uma obra de Michael Crichton, os roteiristas apenas pegaram algumas ideias do autor que foram descartadas dos filmes anteriores. Focando mais na ação e aventura, a trama de Jurassic Park 3 mostra o casal Amanda (Tea Leoni) e Paul (William H. Macy) convidando Alan Grant (Sam Neil), e seu aluno Billy (Alessandro Nivola), para um passeio aéreo guiado na ilha Sorna, e ao pousarem, eles são atacados por um Espinossauro, ficando perdidos na ilha. Mais tarde, descobrem que Amanda e Paul, na verdade estão procurando seu filho Eric (Trevor Morgan), que está perdido na ilha a um tempo após fazer um passeio de parapente pela ilha com seu padrasto.

Jurassic Park 3 é o mais diferente da trilogia original, curto, rápido, e focando mais na ação e aventura do que no suspense, como era o primeiro filme. Uma das maiores críticas em relação ao O Mundo Perdido: Jurassic Park era por repetir a mesma dinâmica do primeiro filme: o ataque inicial, a aparição “fofa” do primeiro dinossauro, o ataque principal que coloca os personagens em perigo, os Velociraptors no final. Jurassic Park 3 faz a mesma coisa, mas em pouco tempo. A trama é outro problema desse terceiro filme. Chata, boba, com algumas reviravoltas previsíveis, e um motivo ridículo para fazer Alan Grant voltar para a ilha: são 1h30min mostrando os personagens procurando uma criança perdida e fugindo dos dinossauros; nada convincente. Sem falar que os personagens conseguem ser extremamente chatos, mas falarei sobre isso logo adiante. Implicâncias, discussões sobre relacionamentos, muitas piadas e humor, os diálogos as vezes parecem ser infantis e rasos demais – o humor mais irônico e ácido de Ian Malcolm era bem melhor -, e ainda tem um drama familiar mais chato ainda. Pelo menos, o roteiro se torna interessante ao falar sobre a inteligência dos Velociraptors e a forma que eles comunicavam entre si. Aliás, essa teoria já vem desde o primeiro filme, e o próprio Alan Grant já demonstrava interesse nesses dinossauros.
Outro problema são os personagens, chatos demais e com seus problemas familiares que acabam irritando ainda mais. O “casal” Kirby, Amanda (Tea Leoni) e Paul (William H. Macy) – que em uma “revelação inesperada” descobrimos que não estão mais casados -, foram colocados como trambiqueiros ao mentir sobre as suas reais intenções ao convidar Alan Grant (Sam Neil) para ser guia de turismo da ilha Sorna. E ainda eles se confundem achando que Grant esteve na ilha Sorna, mas na verdade ele estava na ilha Nublar. Uma hora estão brigando, depois estão se abraçando e elogiando um ao outro, isso tudo enquanto não estão sendo perseguidos pelos dinossauros. O roteiro dá um tom de humor na dinâmica do casal, e até rende algumas risadas e é divertido ver eles discutindo a relação que não tem mais, mas eles acabam se tornando alguns dos personagens mais irritantes da franquia. Amanda é mais escandalosa e parece não estar tão preocupada com os dinossauros, principalmente quando ela chama por Eric no megafone, ignorando o aviso de Grant para não fazer isso porque pode chamar a atenção de algum dinossauro.

Alan Grant merecia um retorno mais digno do que ser enganado por um casal trambiqueiro – ainda mais quando ele diz que “nenhuma força do céu ou da Terra faria ele voltar para a ilha”, pouco antes de receber uma oferta em dinheiro -. Mas as coisas vão se ajeitando à medida que o tema sobre a inteligência dos raptores vai se desenvolvendo na história. Porém, Grant não tem mais o mesmo carisma que cativou os fãs da franquia lá no primeiro Jurassic Park, talvez pelo tom de humor que o roteiro deu aos personagens. Ainda, os roteiristas Alexander Payne e Michael Crichton colocaram uma dinâmica similar aos outros filmes: a interação de Alan Grant com uma criança, no caso o filho dos Kirby, Eric (Trevor Morgan). Aliás, imperdoável o diretor Joe Johnston ter acabado com o casamento dele com a dra. Ellie Sattler (Laura Dern), além disso, a pequena participação da personagem é outro erro do roteiro. Já Billy, interpretado por Alessandro Nivola, merecia um enredo melhor, talvez um sucessor de Alan Grant, mas faltaria carisma para convencer o público. Dos mercenários, Udeski (Michel Jeter) é o que mais se destaca – claro, é o único que sobrevive -, e por incrível que pareça tem mais carisma que os Kirby’s, mas o personagem é pouco desenvolvido no roteiro.
Apesar de todos esses problemas, Jurassic Park 3 se sai muito melhor na parte técnica, principalmente nas cenas de ação com os dinossauros. Os efeitos em CGI estão melhores do que nos filmes anteriores – e para a alegria de todos, ainda tem os animatrônicos -, a trilha sonora não é das melhores (claro, não foi composta por John Williams), sempre em tom mais “exagerado”, mas pelo menos o clássico tema da franquia está de volta, muito pouco modificado. Achei também que Jurassic Park 3 tem mais dinossauros do que os outros filmes, muitos fazem apenas uma curta aparição, e o principal antagonista agora é o Espinossauro, tirando o reinado do tão amado Tiranossauro Rex. Inclusive tem uma sequência em que ele luta contra o Espinossauro, mas o T-Rex acaba perdendo, fato que não agradou muito os fãs da franquia. Dois dinossauros lutando entre si era um sonho de Steven Spielberg, apesar de já ter feito no primeiro filme com o Rex e os Velociraptors no centro de visitantes, mas não da forma como nesse filme. Outra novidade são os Pteranodonte, os dinossauros voadores, que fizeram uma curta aparição de dez segundos na cena final de O Mundo Perdido: Jurassic Park, mas agora ganham uma sequência eletrizante só deles, dentro de uma gaiola.

As cenas de ação com os dinossauros são bem interessantes, trazendo o tom de aventura do primeiro filme. O ataque inicial é sem graça, a primeira aparição dos dinossauros herbívoros na ilha é bem legal, apesar de estarem muito longe – a horrorosa cena do Velociraptor dentro do avião, no sonho de Alan Grant, não conta -. O Espinossauro atacando o avião é interessante e bem tensa até (nessa cena, o animatrônico do dinossauro ficou um pouco falso, dando para perceber os efeitos práticos), e o intenso ataque dos Velociraptors (realmente levei um susto naquela cena do laboratório de pesquisa). Tem ainda a bela sequência dos dinossauros herbívoros no vale, quando eles estão descendo pelo rio, e a bizarra perseguição do Espinossauro com o telefone por satélite que toca dentro do estomago do dinossauro, para mais adiante os personagens acharem que ele tinha voltado, mas agora o telefone estava nas fezes do bicho; inclusive, nessa cena aparece um novo dinossauro carnívoro. Em seguida tem a perseguição no barco, quando o Espinossauro ataca os personagens, cena com bastante tensão, suspense e divertida (o filho da dra. Ellie Satler dançando a música do Barney ao invés de levar o telefone para sua mãe para ajudar Alan Grant), e essa provavelmente é a melhor sequência desse filme (junto com a dos dinossauros voadores). Outra curiosidade: essa cena do barco é inspirada na sequência do bote que está no primeiro livro de Michael Crichton, e que deveria estar no primeiro Jurassic Park, mas por falta de orçamento e pelo alto valor que seria para filmar na época, acabou sendo descartado. A cena em questão mostrava Alan Grant e as crianças passeando de barco quando foram emboscados por um Tiranossauro Rex. O desfecho, quando os Velociraptors cercam o grupo porque estavam atrás dos ovos, deixa um pouco a desejar, mesmo sendo interessante pelo fato de vermos como funciona a comunicação entre eles, e porque eles eram inteligentes, e claro, a última cena mostrando os personagens saindo da ilha de avião com os dinossauros voando para algum lugar distante. Outra curiosidade: no primeiro Jurassic Park, a ideia original era colocar os Pteranodonte voando, mas no fim acabou sendo pássaros mesmo. O diretor Joe Johnston recria a cena, mas com o dinossauro mesmo, em uma belíssima cena que finaliza a primeira trilogia.

Jurassic Park 3 destoa bastante dos dois primeiros filmes da franquia, onde os maiores erros são a trama fraca e nada convincente, principalmente para justificar o retorno de Alan Grant para a ilha dos dinossauros, além de não explicarem como um adolescente de 15 anos sobreviveu na ilha por 8 semanas, e os personagens irritantes e infantis demais – pelo menos conseguimos dar boas risadas -. Mas o terceiro filme tem seus méritos, principalmente por trazer de volta aquele clima de ação e aventura do primeiro filme, e nas cenas com os dinossauros; e ainda é bem curtinho. No fim, Jurassic Park 3 é uma produção simples, despretensiosa, divertida, e você irá gostar bastante se relevar os personagens chatos e os problemas no roteiro. Faltou uma trama mais profunda, intensa, e uma batalha final memorável, como a do Tiranossauro Rex e os Velociraptores de Jurassic Park, e o T-Rex tocando o terror na cidade de San Diego, em O Mundo Perdido: Jurassic Park. A cena do Espinossauro atacando o barco de Alan Grant poderia muito bem ser o “final memorável” de Jurassic Park 3.

JURASSIC PARK 3
Ano: 2001
Direção: Joe Johnston
Distribuidora: Universal Pictures
Duração: 93 min
Elenco: Sam Neil, William H. Macy, Tea Leoni,
Alessandro Nivola, Michael Jeter, Trevor Morgan
NOTA: 7,0
Disponível nos serviços de streamings
TRAILER
CURIOSIDADES
Em um dos roteiros, Billy iria mesmo morrer, mas os roteiristas decidiram não fazer isso para não ficar muito trágico.
Também no roteiro, teria uma cena em que os Velocirators matariam o Espinossauro, que foram mandados por Alan Grant que usou a câmara de ressonância.
Apesar de Jurassic Park 3 ter sido filmado no Havaí, grande parte dos cenários da floresta foram feitas em um estúdio.
Jurassic Park: Extinction e Jurassic Park: Breakout seriam o nome do terceiro filme.
Em entrevistas, Jeff Goldblum revelou que não foi convidado para participar do terceiro filme. Além disso, seu personagem Ian Malcolm quase foi cortado do primeiro Jurassic Park.
A cena do ataque do Espinossauro no barco e a sequência do aviário com os Pteranodontes estão no livro de Michael Crichton, e estariam no primeiro filme do Jurassic Park, mas por falta de orçamento as cenas não foram produzidas.
O Espinossauro foi o maior dinossauro construído da franquia, com mais de 10 toneladas, 8 metros de altura, e 12 de comprimento.
CURIOSIDADES SOBRE JURASSIC PARK 3 (VÍDEO)
ESPINOSSAURO VS TIRANOSSAURO REX (VÍDEO)
TODAS AS CENAS COM O ESPINOSSAURO (VÍDEO)













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